sábado, 21 de setembro de 2013



A rifa





No Colégio João Passalacqua, era costume vender-se rifas por ocasião das festas juninas.

As crianças ficavam alvoroçadas.  Vendiam e vendiam rifas para todo o mundo que encontrava pela frente, pois o aluno que vendesse mais talonários, seria premiado com brinquedos da marca: “Estrela”, durante o decorrer da festa junina.

Estrela era uma marca muito famosa.  As crianças cobiçavam muito os seus brinquedos, porque eram muito bonitos, divertidos e caros e nem todos os pais podiam comprá-los.

Hierania era reconhecidamente a que mais vendia rifas no colégio.  Sempre foi muito comunicativa e determinada.  Isto fazia com que seus bilhetes de rifa saíssem como água.

No entanto, nunca ganhou um só destes brinquedos.  Nunca foi premiada durante a festa.

Todos os anos, Hierania vendia as rifas, ficava esperando o resultado do concurso e sonhando com os prêmios que eram oferecidos.

Mas, no momento mais solene da festa junina, Irmã Lygia, a diretora, anunciava os nomes de outras crianças.

Hierania ficava muito decepcionada com o resultado, pois tinha a certeza que tinha sido a melhor vendedora de rifas do colégio.  Ficava inconformada.  Era uma tristeza só.

Ocorre, que, passados dias da realização da festa junina, Hierania se conformava e esquecia do insucesso.  A Irmã Lygia, no entanto, sempre chamava Hierania e uns dois ou três coleguinhas até a diretoria e oferecia-lhes brinquedinhos de pouco valor econômico e de pouco atrativo, como, bolas, fogãozinhos, ferrinhos de passar e bonecas de plástico grosseiro.

As crianças aceitavam os brinquedos, agradeciam e simplesmente iam brincar.  Mas ficavam indignadas, diante da injustiça de que eram vítimas.

Hierania ficava me perguntando o porquë a Irmã Lygia tinha lhe dado aqueles brinquedos, se não tinha sido a campeã do concurso de rifas da festa junina.

Dizia-lhe que não sabia o porquê.  Pensava que era porque a Irmã Lygia gostava muito dela.

Na segunda vez em que Hierania não foi premiada neste concurso, ela ficou muito chateada, porque tinha certeza de que tinha sido a primeira colocada.  Tinha vendido mais de mil bilhetes de rifa.

Após experimentar nova decepção e nova premiação posterior com objeto inferior ao prometido, Hierania reparou que era sempre as mesmas crianças que eram premiadas com os brinquedos da marca: “Estrela”, e, que tais crianças, eram filhas dos comerciantes do bairro.

Hierania divulgou para todo o mundo que aquele concurso era uma marmelada, pois os pais das crianças premiadas compravam os prêmios para os seus filhos apenas para promovê-los socialmenmte.

No ano seguinte, pegou vários talonários e voltou a vendê-los.  Pegou mais talonários do que estava habituada em fazê-lo.  , que, desta vez, não repassou o dinheiro para a direção do colégio, porque não destacava as suas folhinhas.

Também, contou esta sua proeza para todos os que lhe rodeavam.

Os seus coleguinhas de colégio, passaram a fazer o mesmo.  Estava sabotado o concurso.

No dia da festa junina do colégio, quando a Irmã Lygia anunciou as mesmas crianças como as vencedoras do concurso, recebeu uma vaia generalizada, por uns cinco minutos ou mais.  Foi um fiasco. 

Nunca mais os concursos foram os mesmos.  A arrecadação do colégio passou a ser muito pequena, porque a prática de vender as rifas e não destacar os canhotos tornou-se ainda mais difundida entre os seus alunos.

Quando ficamos sabendo disto, Hierania já estudava na escola vizinha, “E.E.P.S.G. Maria José”.

A desforra feita por Hierania para defender a sua dignindade humana e a lisura do concurso, mostra que o desrespeito leva ao desrespeito e vice-versa.

Isto aconteceu entre 1976 e 1978.  Hierania tinha entre cinco e sete anos de idade.






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