sábado, 21 de setembro de 2013



Elias feliz






Dona Onofra sempre se referia assim, quando queria xingar de infeliz o seu neto de três ou cinco anos de idade.

Elias era uma criança muito bonita e inteligente.  Gostava de brincar e, como toda criança saudável de sua idade, as peraltices não faltavam.

Sua avó, enloquecia de raiva, porque tinha que refazer o serviço doméstico.

Trabalhou para nós como diarista uns quatro anos, aproximadamente.

Era casada com seu José.  Viviam em um velho casarão na Rua Santo Antônio, ao lado do Edifício Joelma e de fronte à Câmara Municipal de São Paulo.

Era um endereço muito privilegiado, sobretudo para quem tinha um estacionamento de veículos como o do seus patrões.

Maria das Dores, a filha de Dona Onofra, trabalhava como empregada doméstica na casa de Michel Temer, então, promotor de Justiça do Estado de São Paulo.  Tinha apenas dois filhos naquela época, Taís e Elias.

Maria das Dores não recebia nenhuma pensão alimentícia ou qualquer outro tipo de ajuda dos respectivos pais das crianças.

Na casa de Michel Temer, recebia apenas um salário mínimo mensal.

Aos domingos, a família freqüentava religiosamente o culto pentecostal e a Escola Bíblica Dominical na Igreja Assembléia de Deus do Belémzinho.

A medida em que Taís e Elias íam crescendo, as suas necessidades sociais e educacionais também cresciam. 

Maria não tinha condições de educar as crianças, porque trabalhava o dia inteiro, inclusive aos sábados.

Como não tinham o que fazer, começaram a sair para as ruas paulistanas.  Não demorou muito para aparecerem as más companhias.

Maria ficou apavorada.  Temia que seus filhos se tornassem delinqüentes de rua.

Resolveu, então, pedir ajuda a assistente social de sua Igreja para colocar Elias em uma creche que mantinham.

A assistente social foi intransigente.  Disse-lhe que não havia vagas disponíveis.

Maria das Dores implorou por ajuda.  Não queria que seu filho fosse mais um dos trombadinhas das ruas de São Paulo.

Mas a assistente social foi irredutível em sua posição.  Não aceitou a internação de Elias na creche da Igreja.

Elias tornou-se um dos mais ferozes líderes das gangues de rua de São Paulo, assim que tornou-se adolescente.

Abandonou a mãe e os irmãos, passando a ir morar de baixo do Minhocão.

O Minhocão é como os paulistanos chamam o Viaduto Costa e Silva.  este é uma aberração da engenharia urbana construída por Paulo Salim Maluf.

Dona Onofra e Maria das Dores, por sua vez, não mais freqüentaram os cultos na Igreja Assembléia de Deus do Belénzinho, onde, antes da morte de Seu José, tinham um grande prestígio social.

Maria da Onofra não se casou, mas teve mais três filhos.  Não conseguia fazer a cirurgia de laqueadura pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Passou a freqüentar a Igreja Cristã Maranata, onde também era dizimista.

Dona Onofra tornou-se viúva e envelheceu.  Com o passar dos anos, os empregos foram se tornando cada vez mais raros.  Mudou-se para um lote que tinha adquirido em Campinas/SP.

Linda Canso Cordeiro fora quem me apresentara Dona Onofra para trabalhar como diarista, em meados de 1984.  Morávamos na Rua Major Diogo 115, apto: 408, Bela Vista, na Capital de São Paulo.

Dona Onofra, ainda, disse-me que tivera um outro filho, mas que se perdera no mundo, pois nunca mais tivera notícias dele.

Depois de 1994, nunca mais vimos esta família.

Um comentário:

  1. Eu conheci esta família,moravam ao lado de meu prédio.Era amiga da Taís e do Elias.
    Digitei "a esmo" no Google os nomes "Onofra" , "Elias" e surpreendentemente caí nesta página!Fiquei boquiaberta de encontrar algo...jurava que não encontraria nada.
    Não ouço falar deles realmente desde os anos 90.
    O que terá acontecido à Taís e ao Elias???

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