sexta-feira, 27 de setembro de 2013



REPUBLICAÇÃO 10






a vida estudantil de Hierania Batista Avelino Peito





Desde muito cedo, Hierania foi para a escola.

Tinha três anos de idade, quando a matriculamos, Secundo e eu, em uma escola de educação infantil.  Chamava-se: Escola Casinha Branca.  Situava-se na Rua Tremedal, no bairro Carlos Prates, em Belo Horizonte/MG.

Naquela época _ em que a maioria das mulheres não tinha nenhuma atividade laborativa extra muros ou de sua própria casa _ o ingresso de Hierania na vida estudantil aos três anos de idade foi considerada precoce pela sociedade.

Em 1976, matriculei-a no Colégio João Passalácqua, que fica na Rua João Passalácqua nº 207, no bairro da Bela Vista, em São Paulo/SP.  A entidade mantenedora é a Associação União Beneficente das Irmãs de São Vicente de Paula.

Lá, cursou o jardim, o pré-primário e a primeira série do antigo primeiro grau.

Contudo, Hierania já tinha se alfabetizado sozinha, desde os três anos de idade, pois, assim que passou a estudar no jardim da Escola Casinha Branca, viu muita monotonia nas atividades que lá eram desenvolvidas.

Então, saía da sala de aula, sem ser percebida pela professora, e ía para a sala ao lado, que lhe parecia mais animada.  Era a sala do pré-primário ou da primeira série do primeiro grau.  Não sei direito qual er o curso, porque, naquela época, o conteúdo de ambos os cursos não se diferenciava muito.

Como tinha deficiência da visão, em razão da catarata congênita, as professoras não se importavam muito com ela.  Hierania sempre foi considerada como cega em razão de sua baixa visão.

Assim, teve liberdade para fazer o que quisesse na escola.

Enfim, sei que passou a assistir as aulas do pré-primário ou da primeira série por sua própria vontade e, assim, aprendeu a ler e a escrever apenas ouvindo as explicações da professora do pré-primário ou da primeira série e observando o movimento de sua mão no quadro-negro ao desenhar as letras para os seus alunos.

A diferença entre Hierania e os outros alunos está na atenção em que a professora lhes dedicava.  Além das instruções acima, ainda, pegava na mão de cada um de seus alunos para ensinar-lhes a desenhar as letras no caderno, como também fazia a correção de seus deveres de casa e estipulava novas tarefas a serem cumpridas.

Como Hierania não era sua aluna, não estava submetida a nenhum destes deveres da professora para com ela e vice-versa.

Em casa, gostava muito de brincar com uma coleção sobre a História do Brasil.  Apontava as letras com o dedo e dizia-nos qual era ela e, quando não sabia, perguntava-nos, insistentemente, até obter a resposta.

Nesta época, também, aprendeu a cantar ‘happy birthday to you”.

Hierania se encantava com o inglês.  Gostava de ouvir e de aprender palavras em inglês e em francês.

Mas eram palavrinhas, coisinhas de criança.  Nós nunca a forçamos a fazer nada.  Apenas fazia o que fosse de sua vontade.

Hierania foi uma criança muito ativa e perspicaz.

Contudo, apesar de sua grande inteligência e dedicação aos estudos, repetiu a primeira série do primeiro grau no Colégio João Passalácqua.

Geórgia, sua professora, nutria um ódio muito grande contra as crianças que fossem diferentes.  Assim, fez questão de prejudicar os estudos regulares de Hierania, Sidney e outras duas crianças pela sua condição social.

Como já dito, Hierania era uma criança com deficiência da visão.  Para alguns, uma criança cega.

Sidney era uma criança de pele negra.

As outras duas eram crianças pobres.  Os pais não tinham dinheiro para pagar as mensalidades escolares.

Hierania e estes seus colegas não tinham nenhuma integração social com os demais alunos, pois eram desprezados pela sua turma em razão de estarem sempre um ou duas lições atrás dos mesmos.

A turma taxavam-nos de “burros” ou de pessoas pouco inteligentes.

Geórgia soube usar o poder que tinha como professora da educação primária para prejudicá-los no desenvolvimento de seus estudos e, também, para marginalizá-los.

A Irmã Lygia _ a diretora do colégio _ não quis rever a posição da professora Geórgia e manteve a sua reprovação.

Naquela época, era uma vergonha muito grande para uma criança, perante os seus coleguinhas, os seus pais e os seus amigos, repetir o ano.

Dessa forma, Hierania foi estudar em uma escola pública de primeiro e de segundo grau que ficava próxima.  Chamava-se: E.E.P.S.G. Maria José.

Enquanto estava a fazer a matrícula da mesma na primeira série do primeiro grau, esta pegou um papel e uma caneta e ficou escrevendo.

Seu Toninho, ao ver aquilo, pegou o papel e examinou-o.  vendo que Hierania sabia escrever perfeitamente, disse-me que não tinha sentido submetê-la a reprovação e disse-me que iria matriculá-la diretamente na segunda série do primeiro grau.

Disse-lhe que não.  Que não queria que minha filha fizesse um curso primário pelas metades.  Queria que ela aprendesse tudo direitinho, mesmo que tivesse que fazer o sacrifício de cursá-lo novamente.

Seu Toninho garantiu-me que Hierania já era muito bem alfabetizada.  Disse-me que era um gênio e que era uma pena submetê-la a este sacrifício tão grande.

Fui irredutível em minha posição.  Não acreditei nele.  Hoje, arrependo-me amargamente, pois sei que prejudiquei os estudos de minha filha imensamente em razão do retardo em sua conclusão.

Lá, estudou da primeira a quinta série do primeiro grau, quando perdeu a visão e foi forçada a mudar de escola.

Fez muitas amizades na Escola Maria José.  Eram seus amigos, Inaiê, Marcela, Fabiana, Nara Cristina Guisoni, Shiomara, Adriana, Andréia, Mayre, Silvana, Raimundo, Caetano, as irmãs: Cristiane e Alessandra Fernandes, dentre tantas outras crianças.  Foi um momento muito feliz em sua vida.

Aos doze anos de idade, como não mais conseguia ler e escrever à tinta, passou a necessitar de atendimento especial para continuar os seus estudos.

Daí, foi cursar a sexta série do primeiro grau, em uma outra escola pública, que se localizava no bairro da Aclimação, em São Paulo/SP.  Seu nome é: “E.E.P.S.G. Caetano de Campos”.

Estudou nesta escola pública até completar o primeiro ano do segundo grau.  Esta foi a escolhida por ser a escola mais próxima de nossa casa, que tinha uma sala de recursos para atender as necessidades especiais da pessoa com deficiência da visão.

Sônia Maria Salomon era a chamada: “professora de Braille”, que tinha as atribuições legais e pedagógicas para desenvolver este trabalho.  Era graduada em pedagogia com especialização em deficiência visual pela Universidade do Estado de São Paulo (USP).

Sônia foi quem introduziu o Sistema Braille de Escrita na vida de Hierania.  Isto se deu, durante as férias de janeiro de 1986.

Sônia deu-lhe as cordenadas principais deste sistema de escrita, isto é, mostrou-lhe cada uma das letras em auto-relevo e deu-lhe os pontos correspondentes para ir praticar em casa.

Hierania, então, foi fazer este seu treinamento.  Quando regressou às aulas, em fevereiro daquele mesmo ano, já, tinha pleno domínio deste sistema de escrita para cegos.  Tinha aprendido a ler e a escrever pelo Sistema Braille, com apenas quinze dias de estudo.

Isto foi necessário, porque, no ano de 1985, ou, durante todo o curso da sexta série do primeiro grau, teve apenas que contar com a boa vontade de seus professores, colegas e amigos para estudar.

tinha perdido a capacidade de escrever à tinta e não conhecia o Sistema Braille de escrita.

Assim, desenvolvia todas as atividades estudantis oralmente.

A exceção ficava por conta da disciplina de matemática.  Os cálculos eram realizados com giz no quadro-negro.

Muriel _ a professora de matemática _ a estimulava muitíssimo.

Linda Canso Cordeiro _ uma grande amiga da família _ também, estimulava-lhe muitíssimo em seus estudos.  Era ela quem lia as lições e fazia os exercícios de casa com Hierania, naquela época.

Linda sempre foi uma pessoa muito humana, generosa e consciente de seus direitos de cidadã. 

Estudavam sempre aos sábados, pois era quando tinham tempo livre para fazê-lo.

Linda fazia isto gratuitamente, porque não tínhamos dinheiro para pagá-la.

Ademais, Linda estudava com Hierania, porque era sua amiga e respeitava a sua pessoa.  Achava-lhe muito inteligente e via que necessitava de sua ajuda para concluir os seus estudos.  Queria que Hierania fizesse um curso superior e que ingressasse no mercado de trabalho como todas as demais pessoas têm o direito de fazê-lo. 

Linda ajudou muitíssimo Hierania a pular mais este obstáculo.  Queria ajudá-la a ter uma melhor qualidade de vida

Na Escola Caetano de Campos foram seus amigos, Viviane, Kátia, Lisa, Andrêa, Adriana, Atílio Bonfiglioli Grimaldi, os irmãos, José Nereu e Luiz Virgílio Afonso da Silva, Marília, Cristiane Maluf, Cláudia Roberta Tiosso, Roberta, Cristiana Felipe e Danilo Namo Costa.

Foi, também, nesta época, que passou a fazer os cursos de reabilitação na “Fundação para o livro do cego no Brasil”, que, na década de 90 do século XX, passou a se chamar: “fundação Dorina Nowill para cegos”.

Lá, fez os cursos de:

a)                             Atividades da Vida Diária (AVD);
b)                             Orientação e mobilidade; e
c)                              Reabilitação e educação visual.

Com o treinamento com as técnicas da ortóptica, chegou a ler letras pequenas, como as da Revista Veja.  À época, esta revista era a sua preferida.  Conseguia ler duas ou três páginas em seguida.  Isto era considerado um grande feito, pois tinha aprendido a utilizar o pouco resíduo visual que tinha.

Os médicos oftalmologistas denominam esta visão sensorial de visão útil, porque é ensinado a pessoa a utilizar o pouco resíduo visual que possui para ver.  Hierania tinha visão de um metro de distância, depois que passou a desenvolver o glaucoma.

Os médicos oftalmologistas da Escola Paulista de Medicina (EPM) e da “Fundação dorina Nowill” consideravam-na legalmente cega.  Eles eram os responsáveis pelo seu tratamento oftalmológico e pela sua reabilitação.

Hierania, desde os cinco anos de idade, queria estudar Direito.  E, como toda garota paulistana de sua época que queria fazer este curso, Hierania queria estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que pertencia a USP.

Assim, entendeu por bem ir procurar uma escola mais forte, isto é, uma escola que lhe desse uma melhor instrução formal.

Foi rejeitada por três escolas que ficavam no bairro judeu de Higgienópolis.

Uma era tão pequinininha, que não mais me lembro de seu nome.  Fora Ângela Maria Pereira Alves Penna _ uma grande amiga da família _ quem a indicou, porque sua filha _ Tatiana Abib Penna _ estudava lá.

Mas sua matricula não fora aceita, sob o argumento de que Hierania iria prejudicar o desenvolvimento dos demais alunos.

Para eles, ela era apenas uma cega.  Não podia estudar lá.  A direção da escola não a viu como pessoa, nem o seu potencial intelectual e o seu desenvolvimento educacional.

Ângela tentou apresentar a direção da escola argumentos que mostravam que a concepção pedagógica adotada estava incorreta, mas sem sucesso algum.

O mesmo aconteceu em relação aos tradicionais colégios: Sion e Rio Branco.

Ângela sempre lutou muito pela defesa dos direitos subjetivos de Hierania.

Foi Ângela, também, que defendeu Hierania das atitudes violentas empreendidas pelo professor Colbert Martins da disciplina de História no E.E.P.S.G. Caetano de Campos da Aclimação.

Chegou, até mesmo, a pedir pessoalmente a Horestes Qüércia _ então, governador do Estado de São Paulo/SP _ para afastar este monstruoso professor da sala de aula.

Mas, naquela época, não obteve sucesso algum.

Horestes Qüércia era primo de seu marido, Francisco Penna.

Ângela contou-nos que Horestes Qüércia não deu a menor importância para a violação de direitos civis e políticos de natureza educacional de Hierania.

Para ele, era simplesmente a violação de direitos de uma cega.  Não podia se prejudicar a carreira profissional de um professor por causa de uma pobre coitada de uma cega que queria ter paz para estudar.

Para ele, cegos não precisavam ter carreira profissional.  Julgava que os cegos não tem futuro algum.

Cheguei, até mesmo, a registrar uma ocorrência no livro de registro formal da Escola Caetano de Campos.  Dona Heloísa, a diretora, foi quem me sugeriu esta medida, porque dizia que já tinha tentado afastá-lo da sala de aula junto a Secretaria de Estado da Educação, mas que também não tinha obtido êxito.

Colbert Martins humilhava Hierania e todos os demais alunos cegos que lá estudavam, simplesmente, porque eram pessoas com deficiência da visão ou pessoas cegas.

Colbert Martins estigmatizava todas as pessoas cegas que lá estudavam, isto é, para ele, não passavam de cegos inúteis.  Simplesmente lançava-lhes as notas, sem aplicar-lhes prova alguma por escrito.  Quando muito, aplicava-lhes exames orais de forma desrespeitosa.

Hierania exigiu que Colbert Martins lhe aplicasse a mesma prova que dava aos demais alunos e por escrito.

Colbert Martins enloqueceu de fúria, mas teve que assim proceder.  Fez isto somente em relação a Hierania.

Por outro lado, passou a humilhar Hierania muitíssimo em sala de aula, proferindo terríveis agressões morais para atingir sua honra e o livre exercício de sua capacidade civil.

Hierania chegou a processá-lo judicialmente.  Contratou a Drª. Mara Rita Ferreira Garcia para patrocinar esta causa.

Contudo, o juiz de direito do Forum João Mendes Júnior não deu andamento ao processo.  Parece-me que extinguiu o feito sem o julgamento do mérito.

Hierania passava assim, por mais um terrível “bullying”.

Por estes motivos, Hierania foi estudar no Colégio São José da Rua da Glória, no bairro da Liberdade, em São Paulo/SP.

O colégio pertencia as Irmãs de São José de Chambery.  Sua entidade mantenedora era a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Mônica Regina Augusto foi a pedagoga que lhe acompanhou em seus estudos no Colégio São José, durante o segundo e o terceiro anos do segundo grau.  Era, também, graduada em pedagogia com especialização em deficiência visual pela Faculdade de Educação da USP.

A Irmã Geny Eiras e a Dona Valéria Cezar Pedroso foram pessoas extraordinárias para com Hierania.  Recebeu-na de braços abertos no colégio.  Têm todo o nosso carinho e gratidão.

Hierania também fez grandes amizades no colégio.  Amizades que duram, até os dias de hoje.  Era muito querida por todos.  São suas amigas, Izabella Mariana Sampaio Pinheiro de Castro, Anelise Caravaggi Hilst, Márcia Junko Assami, Janaína Vaz de Proença, Ana Cristina Machado, Luci, Fernanda, Raquel, Sandra, Alessandra Daidone, Maria Candelária, as irmãs, Maria Alexandra e Maria Valéria de castro altieri, dentre tantas outras belas garotas.

Maria Valéria de Castro Altieri não estudava no Colégio São José.  Estudava medicina na OSEC, em Santo Amaro/SP.

No Colégio São José, seu desempenho acadêmico foi impecável nas disciplinas de humanas e de biológicas.  Mas tinha dificuldade em acompanhar as aulas das disciplinas de exatas.

Por este motivo, tivemos que investir muitos recursos financeiros em aulas particulares de matemática, de química e de física.

Teve excelentes professores particulares de exatas, que, por evidente, cobravam verdadeiras fortunas por suas aulas.  Este era um mercado bastante concorrido em São Paulo/SP, porque, naquela época, era muito difícil ingressar em uma universidade pública e as particulares eram poucas e, nem sempre, de boa qualidade.

Apenas o Seu Pedro Cury deu aulas gratuitas de física, de química e de matemática para Hierania.

Durante um ano, Danilo e Hierania estudavam todos os sábados à tarde, na sala de jantar do apartamento da família deste professor particular.  O Seu Pedro Cury era o pai adotivo de Danilo Namo costa e, também, engenheiro civil de formação.

Hierania aprendeu muito com estas aulas.  O seu raciocínio lógico se aprimorou muitíssimo. 

Também, tinham um convívio pessoal muito bom.  Danilo era um excelente rapaz.  Foi um bom amigo para Hierania.

Nesta época, Hierania foi estudar inglês no Yázigi da Aclimação.

Depois, Neile fundou o InterCult e os alunos preferiram continuar a estudar o idioma com os seus tradicionais professores.

Neile e Nídia, quando souberam que Hierania e eu não tínhamos mais condições econômicas para custear o curso de inglês, ofereceram-lhe espontaneamente uma bolsa de estudos integral, entre os anos de 1991 a 1993.

Neile e Nídia não queriam ver prejudicado o seu futuro profissional.  Admiravam muito a sua inteligência e perspicácia.

Tinha muitos amigos nesta escola de idiomas.  Eliana genda era a mais próxima e a mais querida.

Também, falava de Valéria, Felícia, Alice, Leila, Lory, Paulo, Cláudia e tantas outras garotas e tantos outros garotos da sua idade.  Eram todos amigos naquela escola de inglês.

Paralelamente ao terceiro ano do segundo grau e aos estudos de inglês, Hierania fez os seus estudos em um curso pré-vestibular denominado: “Curso Pré-Vestibular (CPV)”, de modo intensivo, isto é, de outubro a dezembro de 1990.

Fora estudar lá, em razão do convite de Eliana Genda.  Elas estudavam juntas de segunda a sexta-feira, inclusive em casa.  às vezes, um sábado ou outro, tiravam para passear.

Não passou no vestibular promovido pela FUVEST, naquele dezembro de 1990.

Assim, em 1991, matriculou-se no curso pré-vestibular extensivo de um outro curso pré-vestibular muito famoso na cidade de São Paulo/SP.  Este chamava-se: “Anglo Latino”.  Era, também, de propriedade de um judeu, Seu Simão.

Só que, desta vez, fora muito bem recebida pela direção do estabelecimento.

Seu Ricardo e Seu Alberto acharam Hierania tão inteligente que também lhe deram uma bolsa de estudos integral, quando sua pensão de natureza especial pela folha de pagamento do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) foi suspensa por um ato administrativo do desembargador José Fernandes Filho, em 9 de junho de 1991.  Data em que completara vinte e um anos de idade.

O transporte, ficou a cargo de sua grande amiga, Elke Hupfeld.  Isto se deu pela iniciativa e generosidade da própria amiga.

Vanessa e Letícia também eram suas amigas, dentre tantas outras pessoas que lá estudavam.

Letícia, naquela época, namorava com Kennedy Alencar Duarte Braga.  Este e Ricardo Sóstenes Coutinho Peito são os meus filhos de criação.

Vale dizer, que, apenas por estudarem no mesmo estabelecimento de ensino, Hierania tornou-se colega de uma das filhas de Sílvio santos.  Mas nunca trocaram uma palavra sequer.  Não eram da mesma turma.  Hierania era da turma de arquitetura.  A filha de Sílvio santos era da turma de humanas.

Por evidente, todo mundo sabia que a filha de Sílvio Santos estudava lá.  Era um dos alvos de atenção da maioria dos jovens.

Todos os alunos mantínham a necessária distância, porque não queríam perturbar o sossego e a tranqüilidade da moça.  Afinal, tinha o direito de se sentir livre como todos os demais alunos do curso.

Era estranho assim mesmo.  Ela era o alvo das atenções, mas mantinha-se a necessária distância para o seu conforto pessoal, muito embora circulasse livremente entre todos.

A direção não permitia a entrada de seguranças.  Estes tinham que ficar esperando-a na porta do estabelecimento de ensino.

Hierania contava-me estas coisas.

Em julho de 1991, Hierania foi aprovada no vestibular da “Universidade Mackenzie”, em São Paulo/SP.  Contudo, não pôde se matricular na Faculdade de Direito, porque não tinha mais dinheiro para custear os seus estudos.  Sua pensão estava suspensa pela folha de pagamento do TJMG, como acima exposto.

Seu Ricardo e Seu Alberto lamentaram muito este ocorrido e disseram-lhe para continuar a estudar no Anglo Latino, sem custo algum, até o final do ano.

Em dezembro de 1991, não foi novamente aprovada no vestibular da Fuvest.  Foi aprovada apenas no da “Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)”.  Só que para a “Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo/SP”.

Regina Zerbini _ uma das coordenadoras do vestibular _ disse-me pessoalmente, que não queria ver cegos estudando na PUC/SP.  E, por isto, dera um jeito de mandá-la para São Bernardo do Campo.

Novamente, não tinha como cursá-lo.  As condições sócio-econômicas eram as mesmas.  Além disso, a distância entre São Paulo e São Bernardo era muito grande e desconfortável para quem tinha que ir e vir de ônibus todos os dias.

Naquela época, não existia programas de incentivo para estudantes universitários de baixa renda ou de qualquer tipo de ação de discriminação positiva.

Os advogados, Francisco da Silva Caseiro Neto, Luciano da Silva Caseiro e Renée Francisco Moreira da Silva, não nos apresentavam nenhuma solução jurídica ou administrativa para o nosso caso pessoal.

Hierania passou a estudar apenas em casa.  Não queria perder a habilidade intelectual e a acadêmica adquiridas.

Marcos Shoiti Tanaka e Alexandre Cunha Xavier, respectivamente, estudavam humanas e exatas com Hierania.

Depois, vieram as irmãs, Alexsandra Carmem e Andrêa Cristina Caseiro.

Estes eram seus colegas de cursinho no Anglo Latino.  Tornaram-se também grandes amigos.

Também, Daniela, Toninho, Eleonora e João Carlos caseiro (o Dodô) chegaram a trabalhar como ledores para Hierania, mas por pouco tempo.

Daniela era filha de uma professora do Colégio São José.

Toninho era o namorado de Andrêa Cristina Caseiro.

Eleonora era a prima de Daniela, uma baiana que estudava no Stockler Pré-Vestibulares.

João Carlos caseiro era o sobrinho e o neto dos respectivos advogados, Francisco e Luciano da Silva Caseiro.

Isto se deu entre os anos de 1991 e 1993.

Em agosto de 1993, Hierania foi estudar em um outro curso pré-vestibular.  Este era o “Stockler Pré-Vestibulares”.  Ficava no bairro do Campo Belo, em São Paulo/SP.

Isto se deu, porque Hierania queria muito cursar Direito para defender os nossos próprios direitos pessoais violados e para se colocar no mercado de trabalho.  Seu objetivo sempre foi seguir uma carreira jurídica no Estado.  Queria ser juíza federal.

Dessa forma, em busca de satisfazer os seus objetivos, telefonou para a minha irmã, Ivone Batista Pereira, e pediu-lhe uma bolsa de studos.  Apresentou-lhe os cálculos que tinha feito para custear os seus estudos no “Stockler Pré-Vestibulares”, incluindo-se o transporte, os ledores e a alimentação, vez que o material didático era cedido por este próprio curso.

Ivone disse-lhe que não podia dar-lhe uma bolsa de estudos integral, porque não tinha condições financeiras para assim fazê-lo. Mas prometeu dar-lhe uma pequena parte em dinheiro e disse-lhe que fosse pedir esta bolsa de estudos integral para Peter Fürst, seu amigo suíço que era muito generoso e gostava de ajudar as moças e os moços pobres da América Latina, simplesmente, porque era um solteirão “podre de rico” e, como não sabia o que fazer com o seu dinheiro, gostava de fazer caridade para os necessitados.

Disse-lhe que era necessário que fizesse isto, porque, mesmo se quisesse, não podia lhe ajudar, porque o seu marido, Lord Robert Charles Batchlor (a quem chamava de Bob), estava atravessando grandes dificuldades financeiras e que, para manter o seu escritório de engenharia civil, encontrava-se trabalhando como sua secretária particular.

Ivone dizia-nos que Bob era um lord falido como tantos outros que existiam na Inglaterra de Margaret Thatcher.

Ivone a odiava por isto.  Dizia-nos que a sua política neoliberal iria levar a Inglaterra a falência e a mais completa miserabilidade.

Ivone e Bob moravam em Bournemouth, na Inglaterra.

Eles nunca convidaram minhas filhas e eu para visitá-los.  Diziam que não tinham condições sócio-econômicas para custear as nossas passagens aéreas até lá.

Como a nossa situação financeira nunca permitiu, também, nunca fomos à Inglaterra ou à qualquer outro país do mundo.

Hierania e eu apenas nos comunicávamos com Ivone por meio de cartas ou de telefonemas.

Raramente, falávamos com Bob, porque ele não falava português.  Ivone dizia-nos que ele não conseguia aprender a língua, porque era muito burro.

E, de fato, Bob apenas se expressava em inglês, quando conversava conosco.  Bob dizia que Hierania era muito inteligente.

A última vez que estivemos pessoalmente com Ivone e Bob foi em são Paulo/SP, em 1985. 

Ivone se comprometeu a mandar uma mesada para ela custear os seus estudos no “Stockler Pré-Vestibulares”.  Mas apenas mandou a primeira parcela, tal como o seu amigo Peter Fürst.

Hierania, que já tinha se matriculado neste cursinho pré-vestibular, não sabia como fazer para honrar o compromisso que tinha assumido.

Marcos Stockler, que tinha acompanhado diretamente toda esta situação fática, vendo a boa-fé de Hierania em relação a palavra empenhada por Ivone Batista Pereira e Peter Fürst, resolveu dar-lhe a bolsa de estudos integral de seu curso semi-extensivo, isto é, o curso que ia de agosto a dezembro de 1993.

Para o transporte, foi contratado os taxistas: Cláudio e João Grandão.

Depois, sua colega, Ana Flora Murad deu-lhe algumas caronas.

Assim, Hierania pôde ir lá estudar.

Todos sabiam das dificuldades sócio-econômicas pelas quais passávamos, no entanto, Hierania nunca sofreu nenhum tipo de constrangimento no “Stockler Pré-Vestibulares”, mesmo sendo uma bolsista no meio de milionários.

Fez muitos amigos lá.  Dentre eles, lembro-me de que Hierania falava-me de Daniela, Adriana, Grazielle, Luciana, Ana Flora, Heloísa, Flávia, Rodolfo, Rosa e seu namorado.

Grazielle era a irmã de Adriana.  Conheceram-se, quando Hierania foi passar um final de semana em sua casa para estudar.

Marcos Stockler e sua mulher, pelo contrário, tentaram conseguir resolver a nossa situação por todos os lados possíveis.

Tentaram falar com os seus amigos influentes na República.

Tentaram contratar e pagar os honorários de um advogado para impetrar um mandado de segurança para reestabelecer o pagamento da pensão de natureza especial a Hierania pela folha de pagamento do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG).

Mas nenhum de seus amigos quis nos ajudar para não se comprometer.

Também, nenhum advogado quis aceitar o patrocínio desta causa.

As pressões eram muito intensas.  Passávamos por uma crise financeiro-econômica, ainda mais grave.

Em dezembro de 1993, Hierania, novamente, não foi aprovada no vestibular promovido pela Fuvest.

Hierania não tinha mais como estudar.  A pensão que recebíamos pela folha de pagamento do IPSEMG era irrisória, mal dava para suprir as necessidades básicas de nossa sobrevivência.

Assim, ficou muito tempo sem estudar.

Quando o desembargador Lúcio Urbano da Silva Martins determinou por meio de um ato administrativo o reestabelecimento do pagamento da pensão de natureza especial para Hierania pela folha de pagamento do TJMG, em 8 de outubro de 1998, foi um grande alívio para todas nós.

Hierania queria recuperar o tempo de estudo perdido.

Assim, a partir de março de 1999 resolveu contratar ledores e professores particulares para estudar em casa com as apostilas que tinha guardado do “Anglo Latino” e do “Stockler Pré-Vestibulares”.

Nesta época, lembro-me que Sandra e Maureen Jones foram as suas primeiras ledoras.

Depois, vieram Jordan, Fabiano Barbosa Vilella e Ernesto Geisel Arruda.

Também, Alexandre Braga e Vânia Mara Machado Oberdá deram-lhe aulas particulares de idiomas.

Alexandre Braga ensinou-lhe inglês e espanhol.

Vânia Mara Machado Oberdá lecionou-lhe inglês e francês.

Também, Fernanda Carolina Marinho Costa, Valéria Soares, Raquel Menezes Faria, Maria Cecília, Vânia Mara, Simone Rodrigues e Milma Maria de Mendonça alternadamente prestaram-lhe serviço remunerado como ledoras de textos que gravavam em fitas cassettes, durante todo o período de seu curso de Direito no Instituto Metodista Izabela Hendrix, ou seja, de 2000 a 2004.

Milma Maria de Mendonça e Carolina Baracat trabalharam como ledoras pessoais para Hierania.

Nesta época, Hierania resolvera fazer aulas de canto.  Aceitou a indicação de Fabiano, pois este fazia aulas de canto com o Maestro Abraham Francisco Simal e cantava no “Coral da Usiminas”.

Hierania estudou canto e técnica vocal com Francisco José de Castro Simal, o Maestro Abraham Francisco Simal, de fevereiro de 2000 a dezembro de 2004.

Minha filha queria cantar em um coral, mas o maestro dizia-lhe que sua deficiência visual a impedia de fazê-lo.

Também não desistia de seu objetivo de cursar o curso de Direito, o que apenas se tornou possível, nos idos de 2000, depois de uma portaria do Ministro Paulo Renato de Souza, que determinava a prioridade do processo administrativo de reconhecimento do curso superior de Direito, perante o Ministério de Estado da Educação (MEC), para as instituições particulares de ensino que tivessem um aluno com deficiência matriculado

Depois desta portaria ministerial, as coisas mudaram para Hierania.  Finalmente, pôde dar andamento em sua vida estudantil.

Foi só aí que entendemos que as instituições particulares de ensino não queriam receber as pessoas com deficiência em seus bancos acadêmicos.

Daí, lembramo-nos das palavras do diretor da “Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie” que tinha nos dito, nos idos de junho de 1991.  Disse-nos que podíamos Hierania e eu ficarmos tranqüilas que os seus pontos não iriam ser roubados em sua instituição e que, se tivesse capacidade intelectual e acadêmica, iria cursar Direito no Mackenzie.

E, de fato, Hierania foi aprovada em seu primeiro vestibular, em julho de 1991, sem a necessidade de sofrer nenhum trauma psicológico.

Dessa maneira, também, descobrimos, que não conseguiu ingressar na PUC de São Paulo/SP e, também, que não conseguia ingressar em uma Faculdade de Direito em Belo Horizonte/MG, porque era uma pessoa com deficiência da visão ou uma pessoa cega.

Podemos dizer isto, porque, em julho de 1999, não foi aprovada no vestibular do “Instituto Metodista Izabela Hendrix” e, em dezembro do mesmo ano, após a portaria, sua competência foi reconhecida por esta instituição de ensino superior.

Em dezembro de 1999, Hierania foi aprovada nos vestibulares das respectivas Faculdades de Direito do “Instituto Metodista Izabela Hendrix” e do “Centro Universitário Newton Paiva”. 

Também, ficou bem colocada na Faculdade de Direito da “Universidade de Belo Horizonte (UNIBH)”.

Deixou de ser aprovada por apenas um ponto no vestibular promovido pela Faculdade de Direito da Milton Campos.

Apenas não foi aprovada nos vestibulares promovidos pela “Universidade FUMEC”, pelo da “Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS)” e pelo da “Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”.

Entre os anos de 2006 e 2007, continuou os seus estudos em nível de pós-graduação lato sensu.  Tornou-se especialista em direito processual pela “PUC MINAS”.

Hierania, porém, foi vítima de “bullying”, em ambas as instituições particulares de ensino mineiras em que estudou Direito.

Ficou muito tempo sem condições psicológicas de regressar a uma sala de aula, diante da intimidação que sentia pela violência vivida.

No “Instituto Metodista Izabela Hendrix”, apenas Victor Luiz Nunes Júnior foi seu amigo pessoal.

Fabiana Carvalho Gusmão, Wilma Mara de Pinho e Heloísa Helena Marques de Oliveira jogavam com a conveniência.  Assim, ora se aproximavam de Hierania, ora se afastavam completamente.

Ludmilla Picardi, Áurea Chaves e Kássio Amasec foram os seus únicos amigos no curso de especialização em direito processual da “PUC MINAS”.

Depois de enfrentar um terrível “bullying” nas instituições particulares de ensino no Estado de Minas Gerais, apenas continuou a estudar francês e hebraico bíblico nas Edições Paulinas.

As irmãs, Romi Auth, Fátima, Leda e Elizabeth, sempre procuraram propiciar a Hierania muita tranqüilidade para estudar, enquanto se recuperava dos traumas que viveu em razão da intensa violência psicológica ou das humilhações sociais de que foi vítima no “Instituto Metodista Izabela Hendrix” e na própria “PUC MINAS”.
Atualmente, estuda hebraico moderno, hebraico bíblico e grego nas Paulinas.

Pascal Peuze e Gustavo Chaves são excelentes professores, respectivamente, de hebraico e de grego.

Lá, são seus amigos, os irmãos, João Ricardo e Rodrigo Octávio Silva Paula, Ruth Almeida, Marla, Maria Lúcia, Érica e Renato.

Também, neste semestre, começou a estudar italiano na “Fundação Torino de Belo Horizonte/MG”.

Hierania está gostando muito deste curso livre.  Disse-me que os professores, Andressa, Sthefania e Matteo, são excelentes.

E os seus colegas de turma, André, Jéssica, Rafael, Naiara e Izabela, são muito simpáticos e agradáveis.

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