A saúde de Hierania Batista Avelino Peito.  A existência da deficiência visual e da Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-hauser marcam a sua vida - Parte II.

Por volta de seus doze anos de idade, o glaucoma manifestou-se em decorrência da catarata congênita.

Porém não se pode descartar a ocorrência do evento pela existência de seu genótipo dominante para o glaucoma, proviniente da herança genética de seu pai (Secundo Avelino Peito).

Sendo controlado, após a devida cirurgia oftalmológica, por meio de colírios antiglaucomatosos.

Esta cirugia oftalmológica foi realizada pelo Drº. Homero Gusmão de Almeida, no Instituto Hilton Rocha, em Belo Horizonte/MG, em 01/02/1984.

O Drº. Hilton Rocha, por uma questão de estima a minha filha, acompanhou a sua cirurgia no bloco cirúrgico.  Não há operou, porque disse a Secundo e a Hierania que não tinha mais condições técnicas para fazê-lo em razão de não ter mais as mãos firmes para manejar o bisturi.

Ele tinha um grande respeito e admiração por Hierania.  Foi o primeiro oftalmologista a assumir o seu tratamento clínico-cirúrgico.  Realizou três cirurgias em cada um de seus olhos.

Isto se deu aproximadamente, em um intervalo de seis meses entre cada uma delas.

Tão logo removeu a catarata congênita de seu olho esquerdo, Hierania passou a enxergar dele.

Em seu olho direito, nunca teve visão.  Não se formou o cristalino.

Isto fez com que ficasse com olhos de cores diferentes.  O esquerdo é castanho e o direito, cinza-esbranquiçado.

Quando o Drº. Hilton Rocha, após a sua primeira cirurgia, removeu o curativo de seu olho esquerdo, Hierania pulou em seu pescoço. Chamou-lhe de mamãe e ele chorou de emoção.  E, apenas disse-me:

“_Graças a Deus, deu certo!!!...  Ela está enxergando!!!...  Isto é um milagre de Deus!!!...   Isto é uma maravilha!!!...”.

Após as cirurgias, disse-me, ainda, que privilegiara a função mais do que a estética de seus olhos, pois o seu globo ocular nascera solto.  Isto fez com que tivesse um acentuado estrabismo, durante a infância.  Com o tempo, este foi se recuperando naturalmente, isto é, sem que tenha tido a necessidade de recorrer a tampões oftalmológicos para a sua correção.

Também, passou a usar óculos bifocais de doze e dez graus, respectivamente, para substituir o cristalino do olho esquerdo e corrigir o astigmatismo que possuía.

Estes óculos de grau tinham lentes bastantes grossas e necessitavam de armações pesadas.  Eram os popularmente conhecidos: “óculos fundo de garrafa” que tanto constrangiam, estigmatizavam e diminuíam a auto-estima da criança.

Na “Escola Infantil Casinha Branca” e no “Colégio João Passalácqua” as crianças chamavam-na de: “quatro olhos”, “vesga”, “zarolha”, “cobra cega”, “cega” e um monte de outras coisas do gênero.  Também, afastavam-se dela, durante o recreio, porque diziam-lhe que era anormal e muito feia.  Assim, brincava apenas com poucas crianças de sua faixa hectária.

Na “Escola Casinha Branca” apenas Maurício Eugênio Peito Alves _ filho de Ethel Beatriz Peito Alves _ que tinham a mesma idade, brincava e conversava com ela.

No “Colégio João Passalácqua” contava-me que um garotinho de nome: Daniel, o filho de sua professora no jardim da infância, era o seu único colega e amigo.  Esta professora gostava muito de Hierania.  Chegou a nos fazer uma visita, especialmente, para dar-lhe um perfumado talco de presente de aniversário.

Nesta época, morávamos em um quitenete na Rua Major Diogo nº 115, apto: 107, Bela Vista, em São Paulo/SP.

Depois, durante o pré-primário e a primeira série, cursados também neste colégio, passou a ter amizade com Sidney _ a única criança negra na classe _ e de todas as demais crianças, que, como ela, eram excluídas, social e economicamente, naquela escola.

Dessa forma, sempre se aproximou mais dos adultos para conversar e para brincar.  Além de se dedicar muito mais aos estudos.  Tornou-se uma pessoa muito introvertida ou tímida em relação a manifestação de suas emoções e sexualidade, acredito que tenha sido por conta desta forte rejeição social, que lhe acompanhou desde a sua infância.