O ensinamento bíblico
Secundo Avelino Peito era um marido muito ciumento. Não permitia que eu pusesse sequer o nariz para fora de casa.
Com muito custo, permitiu que eu fosse à Basílica de Lourdes todas as terças e quintas-feiras por nove mezes consecutivos fazer orações pela promessa que fiz a Deus.
Tudo era muito difícil em nosso relacionamento. Para conseguir sua autorização para ir rezar na Basílica de Lourdes, vejam só o que foi preciso fazer.
Precisei utilizar todos os argumentos que pude, implorando a sua autorização. Até, que percebi que nenhum diálogo iria convencê-lo.
Então, disse-lhe que iria assim mesmo.
Secundo disse-me que eu queria ir a Igreja para ir dormir com o padre. Não era para rezar o terço coisa nenhuma.
Precisei dizer-lhe que iria chamar o padre João Batista Megale para participar-lhe de suas proibições e para excomungá-lo.
De medo de ir para o inferno, concedeu-me a sua permissão.
Assim, a única coisa que me era permitido, era fazer orações mensais na referida Basílica.
As crianças e eu pegávamos um ônibus na Rua Abaeté, no bairro do Bonfim, e íamos alegremente rezar o terço.
Isto me era muito agradável, porque minha mãe ensinara-me a rezar o terço todos os dias, desde criança.
Enquanto rezava, Ricardo Sóstenes e Hierania passeavam pela Igreja e olhavam as imagens dos santos.
Em uma certa vez, Nossa Senhora de Lourdes conversou comigo na gruta da Basílica. Descreveu-me toda a História da humanidade e contou-me tudo por que iríamos passar.
Como queria estudar a Bíblia Sagrada, Nossa Senhora disse-me que abrisse a porta para as pessoas que todos os dias me chamavam na porta de minha casa e que iriam novamente chamar-me as sete horas da manhã no dia seguinte. Eram três anjos. E um deles iria me ensinar tudo o que eu queria e precisava saber. Disse-me que poderia recebê-los e estudar a Bíblia, mas que não me batizasse, terminantemente, porque eu já era batizada e não precisava mais me batizar em lugar nenhum.
E, de fato, as três pessoas bateram na porta e tocaram a campainha, exatamente as sete horas da manhã, como Nossa Senhora me falou. Eram Antonieta, sua irmã e um rapaz norte-americano. Eram muito jovens. Tinham entre dezoito e vinte e quatro anos de idade. Pertenciam a “Congregação das Testemunhas de Jeová”.
Naquela época, a Igreja Católica Apostólica Romana não permitia que se estudasse a Bíblia Sagrada. Isto era muito pecaminoso. Era um pecado mortal.
Os padres queriam, até mesmo, dar-me a excomunhão, porque eu queria conhecer a História Sagrada e os mistérios de Deus.
Ficamos estudando a Bíblia Sagrada, por dez meses consecutivos. Ensinaram-me a conhecê-la. E, até hoje, leio a que adquiri deles, em 1973. Gosto da sua tradução.
Uma certa vez, Antonieta disse-me que estava enserrado os nossos estudos e para continuá-los, teria que comprar um outro livro e batizar-me.
Não sei que livro era, porque só iria me vendê-lo, se eu me batizasse.
Ficou muito enfurecida, quando eu terminantemente recusei a sua imposição para que eu me batizasse.
Precisei trancar-me no banheiro por algum tempo e, vendo que não desistia, disse-lhe que iria chamar o Secundo para prendê-la, caso continuasse a insistir.
Como Secundo era juiz de Direito, Antonieta desistiu de seu autoritarismo.
Enfim, apenas quando quiseram que me batizasse e não aceitei, o nosso relacionamento social para os estudos bíblicos não mais aconteceu.
Não aceitaram o diálogo que tive com Nossa Senhora. Não acreditavam nela. Não a veneravam. Cada vez que falava de Nossa Senhora, Antonieta enloquecia. Ficava uma fera.
Antonieta acreditava que somente “As Testemunhas de Jeová” seriam salvas e ìam todas para o céu. Os demais seres humanos eram todos pecadores que iam ser queimados pelo fogo do inferno. Dizia-me que era um fogo que iria passar pelo mundo inteiro para purificar a terra.
Contestei-na. Disse-lhe que Nossa Senhora não tinha me dito nada disto.
Naqueles idos de 1973, na Basílica de Lourdes, Nossa Senhora e eu tivemos uma conversa de uns vinte minutos, aproximadamente.
Contudo, espiritualmente, pareceu-me que conversamos por umas duas horas consecutivas.
Estava na gruta, rezando o meu terço pela promessa que tinha feito de rezá-lo por nove meses. Quando terminei, levantei-me para ir molhar a mão na água benta da grutinha aonde fica a imagem de Nossa Senhora para benzer-me. No meio do caminho, Nossa Senhora apareceu-me e conversou comigo. As pessoas passavam e olhavam-me, mas não me tocavam.
Nossa Senhora disse-me, ainda, que, quando fosse convidada para aceitar o batismo, recusasse-o terminantemente; e que pegasse a Bíblia e fechasse-na e abrisse-na imediatamente. O nome do capítulo da folha do lado esquerdo deveria ser marcado com um “x”. Daquele texto em diante, teriam uns outros tantos capítulos, que, no futuro, seriam declarados para a orientação da humanidade. E, daquele dia em diante, deveria lê-los todos os dias para abençoar a terra. Estes capítulos eram os principais, mas deveria ler tantos outros para a direita e para a esquerda.
Enfim, entendi que Nossa Senhora disse-me que se deveria ler toda a Bíblia Sagrada, isto é, ler um versículo ou um capítulo, diariamente, até lê-la por inteiro. Contudo, aqueles capítulos eram os distintos da Bíblia.
A Bíblia Sagrada deve ser lida por toda a vida de um ser humano. A sua leitura é o alimento da alma humana.
Nossa Senhora disse-me, que seria uma Bíblia de cor verde.
E, de fato, “As Testemunhas de Jeová” levaram-me uma Bíblia de capa de cor verde.
A Igreja Católica Apostólica Romana tem conhecimento desta minha experiência mística. Aceitou-na com muito respeito.
Apesar de suas convicções religiosas extremadas, gostava muito de Antonieta, de sua irmã e do rapaz norte-americano. Eram boas pessoas.
Depois disso, voltei a encontrar Antonieta por umas três ou quatro vezes. Conversamos apenas socialmente, vez que estávamos caminhando pelas ruas. Não queria estabelecer um diálogo comigo. Pareceu-me muito acanhada.
Mais tarde, fiquei sabendo que Rachel Maria Peito Schoenencorb, durante o seu curso de Direito, estudara a Bíblia Sagrada com um casal norte-americano das “Testemunhas de Jeová”, mas que, também, não se batizara.
Rachel Schoenencorb disse-me que insistiram muito para o seu batismo, durante muito tempo.
E, que, também, teve dificuldade de se desvencilhar delas.
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